E sou uma incógnita
Um ser obscuro
E sou um ser pré-maturo
Não tenho mecanismo
E nem tenho organismo
Não tenho nenhum magnetismo
E sou um ser sem flexibilidade
Não influencio ninguém
E nem tenho capacidade
E nem estrutura
E sou um dilema
Um quebra-cabeça
Uma dor de cabeça
Um beco sem saída
E sou tal o cruzeiro
Desvlorizo a cada dia
Desanimo a cada segundo
E me perco a cada minuto
E me desinteresso a cada hora
E vou abandonar o barco
Não adianta mais remar
Não vai dar para continuar a remar
Minha canoa está furada
E não estou com nada
E não sei de nada
Sou uma ilha
Perdida em pleno alto mar
Perdida nesse imenso oceano
Longe do próprio sol
A morrer em claras sombras
A vagar sem parar
E sou uma armadilha
Uma ratoeira
Uma arapuca
E sou um veneno
Pirata perigoso
Jagunço criminoso
Cangaceiro sedento
De sangue e morte
De carne e ódio e raiva
E sou a seca
Trago a desgraça
Montada no cangote
Sou a miséria
Uma disgrama
Sou uma disgreta
Um pobre garrote
que morreu sem água
Longe da manada
Sou um pote de barro seco
Uma moringa vazia
E sou uma cuia quebrada
Uma peneira rasgada
Um pilão sem mão
Uma enxada sem cabo
E sou um crápula
Um rábula de porta de cadeia
E sou a areia do deserto.
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