quinta-feira, 13 de agosto de 2020

"Originais", RJ/1980, Um telhado sobre o mundo; Publicado: BH, 0130802020.

Um telhado sobre o mundo

Uma peneira para tampar o sol

Quero uma escada para subir

E me jogar no espaço e cair

Sobre o telhado e arrebentar o

Telhado e cair em cima duma

Mesa na hora do jantar e

Comam minhas carnes com as

Mãos e não precisam lavar as

Mãos e minhas carnes também

Estão sujas e peguem os 

Pássaros e soltem os pássaros

E peguem os homens e acabem

Com os homens e enquadrem

No esquadro o espaço sem

Compasso e atira uma tira de

Pano qualquer no meio do

Lodo do lago e deixa a boiar o

Cadáver do monstro do lago

Podre e sem telhado e peneira

Velha sem furos e que não

Serve nem para catar arroz e

Nem feijão e nem café e só um

Bom telhado resiste a este

Mundo fetal mergulhado na

Placenta dum útero podre de

Feto sem cordão umbilical e

Formado sem forma e sem

Parte e sem matéria e molécula

Alterada e incerta e molécula

Ambulante de bactéria homem

Sem destino de homem serpente

Venenosa no telhado sobre o

Mundo na peneira para tampar

O sol inclemente na carne viva.

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