Sertão
Carne seca rapadura
Farinha viola
Sanfona violão
Morte vida se confundem
Quando seca o açude
A seca seca o sangue das veias
O sol gela o coração
Apodrecem bichos nas estradas
A vaquinha magra morta
Abandonada povoada de vermes
Não dá para aproveitar nada
O caminhão do pau de arara
Levanta poeira
Na alma dos retirantes
Sertanejo parte desgraçado
Com a família do roçado
Foi para aonde não se sabe
As pegadas se perderam
Nos estrados das estradas
Corpos se perderam na caatinga
O vento leva os vestígios das
Vertigens dessa seca para longe
Não refresca da garganta do homem
O seu canto de desespero e
Perdeu tudo do que não tinha
A mulher a criança o gato
O cachorro sumiu no mato morto
Atrás dum trem qualquer
O forró morreu
O baião aboiou
O xaxado estacou no chão
A seca chegou ô xente
Cabra da peste desmunhecou
Larga de morrer lá dignamente
Para morrer na cidade indigente
E nos rios temporários
Peixes nadam na areia incandescente
Cadáveres pescam
Seus esqueletos ardentes
E os bernes comem
As tripas das buchadas
Jogadas do lado de fora
Pelos cantos dos caminhos
Inclementes dos desencantos.
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