Sei que vou morrer naturalmente
De velhice senil decadente
Preso em cima duma cama
Coberto de andrajos doente
A escarrar pelos poros
Com dores pela alma
Insano demente
A não reconhecer ninguém a
Não querer extrema-unção
Flores velas missas
A não querer choradeira
Na hora derradeira
A resmungar de tudo
A falar sozinho
A ouvir vozes gritos
A gritar no escuro
A reclamar da luz
Do silêncio da sorte
Por que não morri antes?
Por que não morro logo?
A clamar por Deus
A amaldiçoar o diabo
A xingar a todo mundo
A atormentar atormentado
Sei que vou morrer naturalmente
Queda no banheiro ou acidente
Esquecido a esquecer
No esquecimento latente
Com o espírito latejante
A felicidade ausente
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