segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Sinto-me na necessidade de escrever algo na despedida de 1999; BH, 03101201999; Publicado: BH, 050902013.

Sinto-me na necessidade de escrever algo na despedida de 1999
Já que o ano 2000 vem por chegar estou a arrepiar-me com
Vontade de chorar não sei que marca deixarei no ano quase
Findo nem sei que marca terei no ano vindouro tentei como só
Sei superar minha mediocridade fiz da cultura minha realidade
Busquei a felicidade onde a pude achar sei que encontrei
Tristezas violências injustiças desumanidades mentiras não
Andei na verdade na coragem sofri com a covardia o medo
Não me emancipei nem venci a força bruta da gravidade que
Prende-me aqui não gozei o orgasmo da liberdade o ritmo da
Modernidade da mídia a progressão da capacidade da sabedoria
Da inteligência tudo que tentei fazer não teve evidência
Acabei-me na decadência a escarrar pedaços de minh'alma nas
Calçadas das sarjetas engoli os sapos do neoliberalismo respirei o
Mesmo ar dos políticos hipócritas aplaudi a burguesia a elite
Sobrevivi das migalhas dos restos que eram-me atirados das mesas
Nos fins dos banquetes macabros com orgias muitas festas muita
Carne muita droga cocaína maconha energéticos tudo mais
Que a sociedade usa na saciedade dos seus costumes ai de ti mundo
Insensato que não ouve a voz sensata o conselho que resguarde a
Vida que assegure a felicidade produz a tranquilidade traz a
Serenidade que o espírito procura desde séculos anteriores bem-vindo
Então ano 2000 ao ano 2000 que chega agora de entrada a trazer os
Segredos esperanças a banir tragédias desgraças a expulsar
Guerras bombardeios fomes misérias dores fim de temores
Fim de terrores fim de horrores começo de amores da era do tempo
Da paz começo do fim da mediocridade começo do tempo do amor da
Volta do homem à humanidade da volta do ser ao humano ao seu
Interior da volta da Terra ao redor do Sol da volta da Lua à pureza
Habitual salvemos a criança do mal livremos o pequenino do grande
Abençoemos o filho no útero que encontre o caminho que não
Seja o dos mutilados das vítimas das minas terrestres das vítimas
Dos governantes cruéis que não seja dos flagelados refugiados nos
Campos sem pátria paz paixão perdidos nos olhares vagos
Sofridos nos vazios das mãos mãos decepadas por facões nas
Étnicas africanas onde meninos inda crianças já são heróis de
Guerra a matar a própria semelhança com ira ódio vingança
Sem a calma do jardim de infância boas vindas ano 2000 deixes
Lá bem atrás longe a dor o sofrimento a lágrima o choro
O pranto incontidos a infelicidade extrema a força do consumismo
Neurótico a fúria do ter psicopata o poder deprimente de possuir
Para existir sem ser sem se preocupar em existir sem precisar ter um
Bem da moda da mídia da propaganda propaganda enganosa
Falsa de efeito ilusório estética pueril a mente fica esquecida a
Alma fica no esquecimento a memória completamente vazia o espírito
Fora do contexto da razão coração de iceberg sem solução a
Racionalidade radical é de sem sentimento de sem teor sentimental
De sem emoção sei muito bem aqui comigo que se por ventura um
Alguém qualquer tomar de mão do interesse ler estas linhas
Indefinidas certamente não encontrará o que gostaria de ler o que
Gostaria de pensar porém o impulso é maior a emoção é muito grande
Choro à toa igual criança pois não sei usar a não ser o coração não sei
Usar o raciocínio não sei pensar antes dói o pensamento não sei escrever
Tecnicamente igual um tecnocrata sabe o que fazer nas teorias teses
Nas horas de aflição turbulência entrego-me logo tremo todo o
Outro é frio calculista o outro controla a mente o espírito controla o
Sentimento o coração as pernas não tremem nem bambeiam as
Mãos ficam firmes mortas rijas iguais cadáveres à espera do
Sepultamento no velório com ternos de grifes bem cortados gravatas
Hermes camisas de seda de cambraia linho inglês um cadáver
Bonito elegante prontinho para sujar com a podridão o âmago da
Terra mãe da terra não merecedora de tanta poluição sujeira
Excrementos expelidos lançados no meio ambiente donde se
Transformam em ar voltam aos nossos pulmões acabamos então por
Respirar coliformes fecais dos tecnocratas de nós mesmos coliformes
Fecais sem estrutura sem perspectiva de melhora de morte de
Vida se saber morrer também pode ser uma sabedoria já que viver é
Impossível viver é uma eternidade de amargura angústia depressão
Mágoa viver é um infinito de penhasco donde lançamos nossas
Lágrimas em queda livre uma por uma até formarem os rios em nossas
Faces sulcadas pelo tempo espaço verdadeiros terrenos arenosos
Ásperos que só mesmo a beleza do choro a suavidade da lágrima o
Aspecto do pranto são capazes de transformar em algo definido rosto
Desfigurado carcomido envelhecido tristonho bisonho medonho
Que mete medo às criancinhas tristes às baratas tontas aos
Passarinhos que voam assustados para longe fora do alcance do
Choque que o simples aparecimento desta máscara mortuária causa a
Qualquer ser presente até mesmo a morte se assusta ao ver esta
Assombração a se deslocar feito tênue névoa nas trevas da imensidão
Ao não querer gastar as pestanas queimar o fosfato na busca do
Colorir a massa cinzenta da mais bela coloração tipo quadro de Dali
Cubismo de Picasso ou a luz com o amarelo de ouro descoberto por
Van Gogh quero chegar ao fim deste débil frágil resumo que tento
Fazer na despedida de 1999 não sei como parar não sei aonde vou
Parar estou com febre calafrio a tossir a sentir que talvez já
Esteja a chegar o meu fim só quero me preocupar em deixar um
Registro assim pode não ter valor para mim pode não servir de
Interesse a quem quer que seja mas aqui ficou registrada a dor
Minha angústia extrema por tentar usar a inteligência para viver
Aprender a esperar a morte o sofrer aqui ficam registrados os
Fatos os boatos os fins os idos as voltas as entradas as
Saídas os fundos buracos precipícios abismos o pum do bug
Do milênio na flatulência da passagem do ano para o outro onde
Continuaremos na tolerância da intolerância ou viraremos a mesa
Da ceia de perna para o ar a botar os discípulos da burguesia para
Correrem juntamente com o judas da elite a ouvir agora na
Rádio Guarani Elton John a cantar Skyline Pigeon me voltou a
Vontade de chorar meu corpo se arrepiou por pouco não caí aos
Prantos aqui nesta banca de jornal donde escrevo esta despedida
Na Avenida Augusto de Lima em frente ao Departamento de
Identificação da Polícia Civil agora emociono-me de novo tem uma
Mulher a cantar uma canção de Renato Russo fala que é preciso
Amar as pessoas como se não houvesse amanhã lindo demais é duro
Aguentar sem chorar nestas ocasiões épocas assim fico muito frágil
Debilitado qualquer coisinha mexe comigo qualquer palavra de conforto
Desestabiliza-me trai-me a deixar-me à mostra a revelar a todos os
Segredos da minha fraqueza interior minha falta de acesso à internet
Falta de firmeza estrutura capacidade de articulação bem estar
Pessoal é então deixar em 1999 tudo como se deixa os dejetos num
Vaso, ou num penico vou deixar em 1999 todas as lembranças de
FHC vulgo Fernando Henrique Cardoso ACM vulgo Antônio Carlos
Magalhães como deixo vômito esquecido ao pé dum poste qualquer
Vou deixar em 1999 todos os espíritos aflitos que perturbaram-me
Perseguiram-me entrar em 2000 sou todo entrar em 2000
Sou em tudo entrar em 2000 com tudo não desejar que
Esta seja a última volta do planeta não desejar que o planeta
Saia da própria órbita colida com os outros vou entrar em
2000 preparado novo de vez a começar a viver humanamente 
A começar entender compreender aprender ensinar que
Mais do que preciso é necessário amar para viver é necessário
Amar para continuar perdoeis todos que abandonei não dei ouvidos
Nem escutei perdoeis todos que desrespeitei agredi humilhei
Perdoeis todos que por acaso sentireis ofendidos comigo
Por minha falta de educação minha estupidez ignorância perdoeis todos os
Injustiçados presos oprimidos abandonados perdoeis-me por minha
Burrice minha falta de inteligência minha preguiça desânimo meus sete
Pecados capitais surdez cegueira mudez perdoeis-me todos por tudo é a
Única última coisa que posso desejar agora que enfim chego ao fim desta
Despedida sei que faltou muita coisa incompleta inacabada igual ao próprio
Que agora espera que 2000 traga a todos um trago de felicidade de presença
De existência de raízes troncos folhas flores de árvores jardins
Natureza espero que 2000 nos espere de braços abertos num abraço à paz
Com o fim dos detidos de guerra fim dos alvos infantis que 2000 seja um
Sonho que não se torne pesadelo que consigamos acordar na realidade

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