sábado, 8 de dezembro de 2018

Marília Garcia, pelos grandes bulevares



pelos grandes bulevares

do lado de dentro

o que ela vê quando fecha
os olhos? linhas sinuosas um mapa
feito à mão mais parece uma pista de cima
do avião os campos cortados ou pode ser
uma sombra riscando o verde quando passa
lá no alto
                        o que ela vê quando
olha em linha reta tentando
descrever
                 a garota que conhecera no café
ou os planos que vocês jogaram fora?
a transformada de
wavelets ou o peixe-lua-
circular em uma região abissal.
não é nada abissal estar nesta
superfície, você quis dizer grande? ou esférico?
ou um animal marinho em miniatura:

um polvo de 1mm?

                                   o cinema é 24 vezes
a verdade por segundo. este segundo
poderia ser 24 vezes a cara dela
quando fecha os olhos e vê
  
de fora

não é por falta de repetição, mas não
encontrava a palavra. o que ela vê não sabe
e fica tudo tremido se fast forward ou então
não tem volta. agora fecha os olhos para fixar. para
entender. não se perde alguém por duas
vezes, era o que achava:
mas o trem a esta altura muda de
cor e chega ao mesmo terminal
duas semanas depois. sabe
que agora tudo mudou

você está tendo um problema
de realidade, cochichou mas qual era
a dúvida desta vez?
                                   o que ela vê ao abrir a claraboia
ao bater aquela foto da manif
ou quando
lê as legendas:
“nos abismos a vida é submetida
ao frio, escuridão, pressão.
oito mil metros de profundidade”,
uma montanha ao contrário.


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