Comi o meu nome com sobrenome
Pois estava com fome de faminto fominha
Comi a minha carne fraca com farinha
Pois não era o homem de Diógenes
Comi os meus olhos
Pois não enxergava
Quando me enganavam
Comi a minha voz
Pois não falava a verdade
Comi a minha língua muda
Comi as minhas orelhas surdas
Comi os meus ouvidos olvidos
Comi a minha fala falsa
Comi a minha mão recolhida
Que me fazia errar
Comi o meu coração ateu
Pois me fazia pecar
E não me deixava amar
Comi meu nariz inodoro
Comi meu estômago ostomizado
Comi a minha boca costurada
Comi os meus lábios cerrados
Comi o meu corpo consumido
Comi os meus pés calosos
Comi os meus cabelos postiços
Comi as minha sobrancelhas delineadas
Comi as minhas células alteradas
Todas infectadas
Comi as minhas moléculas modificadas
Comi o meu sangue venoso coagulado
Pois estava com fome
Fome de amor
Fome de paz
Comi o meu pensamento arcaico
Comi a minh'alma suja
Comi a minha cabeça lobotomizada oca
Comi o meu cérebro de cérbero
Comi o meu espírito de porco
Comi a minha morte vã
Pois estava com fome
Fome de viver
Fome de amor
Comi a minha barriga insaciável
Comi as minhas tripas recheadas
Comi os meus vermes de estimação
Comi os meus micróbios cativos
Comi os meus germes naturais
Comi as minhas bactérias carnívoras
Comi os meus vírus mutantes
Pois estava com fome
Uma fome de louco varrido
Uma fome de doido insano
Uma fome de doente terminal
Comi a minha dor crônica
Comi a minha loucura incurável
Pois estava louco com a fome de amor.
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