Duas ceguinhas na esquina
E cada uma com uma canequinha
Com sua canequinha igualzinha
E em cada canequinha três moedinhas
Duas ceguinhas na esquina
Uma moedinha pelo amor de Deus
E estão perdidas na multidão
Estão sozinhas na escuridão
E passam pelas ceguinhas
Milhares de cegos de nascença
E entre esses cegos crônicos
Passo também cego incurável
E olho para as ceguinhas
Mas não as vejo
Duas ceguinhas na esquina
Na esquina cega
Da rua cega
Da cidade cega
E de repente cai
Uma moedinha
Na canequinha
Duma das ceguinhas
E ouve-se então
Um muito obrigada
E o cego surdo
Segue seu caminho
A se tropeçar e a se esbarrar
Nos cegos da vida
Indiferentemente e soberbo
E são duas ceguinhas na esquina
Humildes e tristes
E sem amor e sem luz
E têm apenas cada uma
A sua própria canequinha
Enferrujada por final
Duas ceguinhas na esquina
Milhares de cegos passam
As duas são cegas
Mas enxergam mais
Que os milhares de cegos
Da cidade cega
Porque enxergam
Com os olhos do coração
Deuscajuda.
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