quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Desisto e prostrei-me ao pé do cadafalso; BH, 0160902015; Publicado BH, 0170902015.

Desisto e prostrei-me ao pé do cadafalso e apertei 
O nó da forca; ajoelhei-me à guilhotina, onde
Depositei a cabeça no cepo, diante do cesto e
Debaixo da lâmina; a turba delirava, não pensava
Que voltaria para sacrificar-me em nome da
Alegria, desisto da tristeza de todo dia; os dias
Não são alegres, as noites são melancólicas e as
Madrugadas são chorosas, como choro nas
Portas das casas das ruas da cidade, a parecer
Um refugiado fora da sua pátria; e a cada casa
Que quero entrar, barram-me a entrada,
Cercam-me os caminhos com cercas elétricas e
De arames cortantes; cães ferozes em mãos de
Homens armados perseguem-me pelas selvas,
Desertos; na fuga, a qual não consigo terminar
E não paro, por isso desisti, aqui, neste altar de
Sacrifícios; e não tenho sangue fresco, só venoso
E contaminado, não tenho lágrimas límpidas, só
Turvas, enegrecidas; nem saliva posso oferecer,
Cuspo em seco, cinzas, carvões, sopros apagados;
Num gesto, a turba silenciou-se, algo apontava-me
Do alto, desprezo tuas oferendas, Caim; caim, caim,
Caim, lati em resposta, mas eram ganidos dolorosos
De cão renegado; onde estão os teus irmãos? por
Acaso sou eu guarda dos meus irmãos? não
Responda pergunta com pergunta e sabes muito
Bem a resposta; são irmãos vãos, de mãe vã e dos
Quais, sou irmão vão; a vida é vã, Caim, a morte é
Amada e não vais morrer, não serás amado pela morte;
Que azar então o meu, não terei nunca esta sorte.

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