terça-feira, 22 de setembro de 2015

MIKIO, 82; BH, 050302013; Publicado: BH, 0220902015.

Como é que pode? não sai nada uma
Gota de suor uma gota de sangue
Uma gota de saliva como é que pode?
A fonte secou secou o riacho secou o
Regato como é que pode? nenhum copo
D'água nenhum balde d'água secou
A cisterna secou a cacimba o açude
O ribeirão nenhuma lágrima sequer
Nada nem uma única gota de coriza de
Sereno ou de orvalho até o mar secou
A brisa parou a maresia dispersou-se
Como é que pode? aonde foi parar a
Chuva? cadê a garoa? a plantação
Precisa d'água a criação precisa
Beber as criaturas que se saciam com
Lágrimas querem lágrimas as que
Degustam sangue querem sangue
Como é que pode? nenhum cálice de
Vinho odre de azeite caneca de leite
Secou o ar a umidade nada mais tenho
Para molhar o olhar lubrificar o óleo
Para untar secou as cartilagens
Enrijeceram os meniscos viraram pedras
Como é que pode? querer um desejo não
Ter mais desejo querer um gozo
Não ter como sacia-lo secou-se a
Matéria desligou-se a energia a
Vida secou-se era tão vida tão viva
Doce a azedar-se assim duma
Hora para outra somos todos máquinas
Robôs autônomos teleguiados
Somos todos movidos à molas
Cordas secaram-se os sentidos
Pulverizaram-se os sentimentos a
Razão dorme do sono despertam-se
Os monstros que nos habitam em
Pesadelos secou-se o sonho

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