E estás tão longe e tão longe de mim
Que já até esqueci as tuas feições e a
Distância me fez esquecer todas as horas
Todos os dias e todas as semanas e
Todos os meses e todos os anos que
Passei contigo e a distância é cruel e
Aumenta a saudade e aumenta a
Lembrança mas quanto mais aumenta
Mais faz a gente esquecer de tudo aquilo
Que gostava e que queria bem e que
Chorava e que amava e estás longe na
Distância do tempo que passou e apagou
Do meu íntimo toda a tua imagem e
Apagou do meu coração todo o teu amor
E tomou do meu eu o teu eu e tomou da
Minh'alma a tua alma e separou do meu
Corpo o teu corpo como se separasse a
Minha mão do meu braço e como se
Separasse a minha própria cabeça do meu
Corpo e estás tão longe e não gosto nem
De lembrar daqueles bons tempos que eras
Mulher e que eras minha mulher e que eras
Jovem e que eras minha jovem mulher e que
Eu era jovem e fazíamos amor à toda hora
E todo dia como era gostoso o nosso amor
E como era gostosa a tua boca os teus olhos
Os teus braços as tuas pernas o teu colo os
Teus seios os teus jeitos de amar os teus
Gestos e os teus modos e como era gostoso
Tudo isso e agora o tempo na distância já
Tirou dos meus lábios o teu sabor mais âmago
E o sabor dos teus beijos e apagou da minha
Língua o gosto doce de tua língua e de tuas
Orelhas de teu pescoço de teu queixo e já
Tirou da minha boca o calor agradável da tua
Boca e o tempo não espera e já levou dos
Meus olhos toda a luz do teu olhar e levou
Para bem longe para o horizonte e é por isso
Mesmo que duas vezes ao dia ao amanhecer
E ao anoitecer fito o horizonte longe fito até
Lágrimas rolaram dos olhos igual sangue rola
Das veias e fito o horizonte mesmo porque ao
Fitar o horizonte vejo os teus olhos vejo o teu
Olhar e o horizonte é o teu olhar e então penso
Em ti e penso em nossa vida e penso em nossa
Paz e em nosso carinho e em nossas loucuras e
Quase ainda sinto ao meu lado uma estranha
Sensação de que o teu espírito ainda paira no
Meu espírito mas nem no meu pensamento
Existes mais é que me tornei um fragmento um
Objeto antiquado e bem muito antigo e arcaico
As minhas carnes plácidas as minhas carnes
Compactas já envelheceram viraram rugas de
Pelancas e se me visses hoje não me
Reconhecerias e se tentasses falar contigo
Talvez fugirias de mim e irias te esconder bem
Longe daqui bem longe de mim e como é triste
Viver hoje a tentar lembrar o que se vivia
Antigamente e quando se lembra a tristeza
Aumenta e falta matar e é uma tal de dor no
Peito e um nó na garganta e uma vontade louca
De chorar até os olhos arderem para fazer com
Que esquecer as lembranças ainda mais as
Lembranças duma mulher que foi o amor dum
Tempo onde tudo era vida existia casa existia lar
Existia filhos existia homem existia mulher existia
Família e hoje o que resta e este velho manhoso
É este velho resmungão este velho muquirana
Este nó cego que só espera a morte que só espera
O enterro deste corpo corrompido deste corpo
Alquebrado deste corpo apodrecido onde tu
Estarás agora? no céu ou no espaço no infinito ou
No inferno no universo ou no vácuo estejas onde
Estiveres mas o meu último desejo como homem
Ou mesmo como um velho já morto de espírito
É ver o teu sorriso teu sorriso para perdoar todos
Os meus pecados todas as minhas faltas todos os
Meus erros teu sorriso de amor para purificar meus
Olhos e te chamar de volta seria muita loucura
Implorar por ti é pedir para ser internado num
Intenso hospício mas não sei o porque dessa paixão
Corrupta tem que voltar agora no auge da minha
Decadência mas não consigo impedir a demência
Mesmo se tivesse forças e teu cadáver estivesse aqui
Ainda com esta minha febre amaria teu cadáver e
Tocaria os restos das tuas carnes já bem decompostas
E beijaria tua boca mesmo a ser uma boca duma morta
De mil e um dias e o teu mau cheiro de podre não me
Incomodaria e seria para mim um perfume a fragrância
Duma flor mas o teu cadáver não está aqui está enterrado
Em qualquer sepultura mas não consigo me acostumar
Com isso de que não pensas mais em mim e já me
Esqueceste e não falas mais comigo não ris mais para mim
E enlouqueceste e morreste e me mataste e secaste a fonte
Dum homem feliz e me desgraçaste e me destruíste e me
Arruinaste e não esperaste nem o meu eu morrer para
Poder me apodrecer e me apodreceste vivo mesmo mas o
Meu amor era demais o nosso amor era demais mas a morte
É ruim enlouquece as pessoas torna as coisas ruins complica
As coisas a morte não tem coração sou inimigo público
Número um da morte a morte mata sem olhar mata sem
Pensar mata qualquer um matou até tu e te levou para bem
Longe de mim fez do meu pranto um pranto infinito fez da
Minha dor uma dor cotidiana fez do meu sofrimento o pão
Dela de cada dia a morte é negra a morte é fria e se pudesse
Acabaria mesmo com todo tipo de morte e daria vida à todas
As pessoas que já morreram a vida é tão bela a vida é tão
Gostosa e ninguém precisa morrer e ninguém precisa ser
Enterrado é meu muito amor não sei porque digo todas estas
Coisas digo todas estas bobagens talvez não estejas nem
Sequer a me ouvir e nem a me entender mas digo e digo
Muito mais continuarei a te amar mesmo no além e se um dia te
Encontrar no inferno ou no céu ou em qualquer outro lugar que
Existe por aí onde estejas começaremos tudo outra vez de novo
Novamente e estás tão longe de mim tão longe e esta é a única
Coisa que posso imaginar e tão bem longe que aqui nem morto
Nem certo nem torto apenas aqui a tentar gritar em vão o teu
Nome não existe mais o teu nome não existe mais grito não existe
Mais o teu grito não existe mais tu mas não consigo entender e
Algo me faz reviver algumas sombras do nosso passado e quem
Passa ao longe e me olha vem logo a dizer é um louco e as
Criancinhas fogem de mim e me chamam de Bicho-papão mas o
Pobre coitado do Bicho-papão perto de mim é um anjo é um
Santo é um louco perto de mim é uma criança e precisas ver o
Meu estado não vais encontrar aquele belo jovem aquele forte
Mancebo aquele homem de antigamente que fazia teu sexo que te
Fazia que fazia a tua alma que fazia o teu corpo arderem de
Desejos de amor aquele homem que enchia o teu útero que te
Enchia que enchia a tua barriga aquele homem ainda quer te beijar
Com o fogo do inferno faz muito tempo que já quebrei o espelho
Pois o espelho não me refletia refletia um ser que não sei se era ser
Doutra dimensão um ser disforme um ser sem imagem e sem
Semelhança de Deus hoje para mim não interessa mais o azul do
Céu não me importo mais com a intensidade do mar não quero
Saber mais dos cantos dos pássaros e nem das cores das borboletas
Que eram o meu fraco em tudo para mim acabou a natureza em si
E as coisas boas da vida tudo para mim virou nada e tudo para mim
Virou cinzas e não existe mais e não quero mais saber nem da chuva
Que muitas vezes embalou o nosso amor não quero mais saber nem
Do relâmpago e nem do trovão e nem do raio não quero saber do sol
E nem quero saber da beleza do arco-íris nada disso mesmo me
Interessa mais nada disso sim senhora não me causa aquela estranha
Sensação nas entranhas de felicidade e alegria nada disso tudo te tem
Mais e nem tem mais a tua imagem e nem tem mais não a tua imagem
Linda que completava com a tua beleza total essa raridade da natureza
Em cor para mim tudo acabou o mundo e o que demais existe nele já
Decretei para mim há muito tempo o fim do mundo acabou tudo acabou
O amor acabou a paz acabou a felicidade acabou a alegria acabou o
Gozo acabou o prazer acabou o sexo acabou o orgasmo acabou tu
A minha razão o meu coração os meus órgãos internos e externos
Os meus membros a minha cabeça e acabou tu e os meus olhos o meu
Nariz a minha boca acabou tu o meu eu a minha existência minh'alma
O meu espírito o meu cérebro o meu pensamento acabaste tu amor
O meu calor a minha vida acabou tudo tudo que o pensamento pode
Alcançar tudo que a imaginação pode imaginar acabou o sono acabou
A noite acabou a madrugada acabou o sonho acabou o dia e o meu
Amor e estás bem longe e sei disso tu não existes mais às vezes chego
A perguntar quem és mesmo se exististes ou fostes ilusão se fostes sonho
Ou se fostes pesadelo não sei mesmo o que foi que aconteceu se morreste
Ou fugiste de mim se morreste não vou rezar nem acender velas para tua
Alma e não sei mesmo se tinhas alma se tinhas eu se tinhas a mim se tinhas
Tudo sei que tens apenas a minha loucura o meu cérebro doentio de velho
As minhas doenças crônicas e os micróbios das infecções das inflamações
Dos meus beijos os arranhões das minhas caricias e todas as marcas do
Meu amor e estás tão longe sei que estás bem longe e não voltas mais nem
Em sonhos e nem em pesadelos e nem em uma miragem podes aparecer
É tudo ilusão é tudo loucura é tudo nada é tudo doença mental é tudo
Incompreensão adeus meu amor adeus minha vida adeus meu bem adeus
Minha mulher adeus e até nunca mais fiques no teu sono a sonhar se estiveres
A dormir podes ficar mas não sonhes comigo e tentarei apenas não sonhar contigo.
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