quinta-feira, 11 de junho de 2020

Manhã; Publicado: BH, 0110602020.

Manhã
É bem de manhã no campo
Que as coisas todas
Parecem ser mais puras
O boi a pastar logo cedo
A névoa leve que paira no ar
O cheiro forte do café forte
A brancura da espuma do leite
Tirado na hora
Das tetas da vaca mansa
É bem cedo de manhã
Numa roça bem distante
Que o mundo realmente
Parece viver em paz
De espírito e de verdade
O homem a se levantar
A se bocejar e a se espreguiçar
Na esteira de dormir
Para espantar o sono
Toma o leite ainda morno
Com um bom pedaço de bolo
Ou de mandioca cozida
E pega da enxada
E vai para a capoeira
E vai roçar a terra
E é bem cedinho
O silêncio das árvores
O canto dos pássaros
O tapete do rio
Que corre manso e suave
O mistério das montanhas
Ainda cobertas de nuvens
E a gente chega à janela
E o corpo estremece
Os cabelos se arrepiam
A gente passa a mão no rosto
Esfrega os olhos
E repara com o fundo d'alma
Tanta beleza
Tanta pureza
Não dá nem vontade
De sair da janela
E só ficar a olhar
A grama verde
Os primeiros insetos
Que se locomovem lentamente
Para não perturbar
Àquela paz eterna
E é bem de manhã no mato
Que sentimentos no ser
A natureza viva e
Que sentimos na pele
O frescor da brisa
E o cheiro bom do mato
O cheiro novo da terra
E molha o corpo nas plantas
Ainda cobertas de gotas
Do sereno ou do orvalho
E bem cedo de manhã
Numa fazendinha
Que sentimos vontade
Depois de bem velhinhos
Morrer tranquilamente
E ser enterrado ali.

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