E sou um poema excepcional
Sou um anormal
E já notei que sou
Sou um filoma
Um furúnculo que não tem salvação
Nem contenção para a minha destruição
E sou uma leucemia
Sou um câncer
E não tenho cura
E sou uma morte
Sou um morto
E já mandei lavrar
Meu atestado de óbito
E sem causas mortis
E minha mulher já pediu
A declaração de viuvez
E passou a andar de preto
Quer um homem dentro de casa
Um homem racional
Um homem livre
Não um animal engaiolado
Não um animal enjaulado
Um animal acorrentado
Que igual sou
E sou um deficiente
Uma pereba crônica purulenta
Cheia de moscas de bichos nojentos
E sou um pereba
Grande e frouxo
Perna de pau obeso e fraco
Sou uma fotocópia de ser humano
Um xerox da raça humana
Um similar de homem
Original da humanidade
E não fui nem autenticado
Sou um rolo de papel higiênico
Sou um sangue de menstruação
Fui despejado no vaso
E dada a descarga
Não sobrou nem vestígios de mim
Sou um esgoto
Sou um rato
Sou um escorpião
Sou uma barata
Vivo tonto e cego
Nas calçadas da vida
Passou um pé de chinelo
E me esmagou..
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