Canto um canto sem canto
Minha música não tem melodia
Minha canção de som é vazia
Mais antiga é a minha cantiga
Canto ladainhas que ninguém
Escuta gregoriano angelical
O barulho da sinfonia universal
Colisões de galáxias explosões
De estrelas gemidos dos planetas
Dos sóis que são mastigados
Engolidos pelos buracos negros
Do aquém o que é que canto?
Canto o que não vem as rezas
Das pretas-velhas os lamentos dos
Pretos debaixo das chibatas os
Gritos dos capatazes misturados
Com os gritos das negras violentadas
Os comandos dos capitães-do-mato
Canto tudo não canto nada direis
Os surdos incapazes de escutar
O barulho que a aranha faz
Com o seu tear canções trazidas
Pelas formigas forjadas pelo peso
Das folhas que carregam odes
Liberadas pelos besouros no cio
Elegias declamadas pelas joaninhas
Borboletas que só vivem um dia
Ou mesmo uma hora sou um
Cantor mudo que não diz nada
As multidões que me escutam
São legiões de fantasmas de
Espíritos de todas as espécies todas
As linhagens africanas doutros
Recantos indígenas das matas
Dos matagais das raízes dos sobrenaturais
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