terça-feira, 9 de junho de 2020

Lelêu; Publicado: BH, 090602020

Lelêu
Quem não se lembra
Lá da beira da linha
Que quis pegar à força
Uma nova garotinha
E gostava de menininha nova
E tentava pobres anjinhos
Mas o infeliz foi preso
E apanhou e passou fome
E acabou Lelêu saiu da cadeia
Mais bicho do que homem
Mais bichado do que laranja podre
Mais cheio de vermes do que cadáver
E o pessoal tratou de arranjar logo
Um apelido para o Lelêu Papa Anjo
Isso mesmo foi o apelido Papa Anjo
E quando passava sujo e morto
Pela rua suja da Borracha Franca
E algum sujo gritava Papa Anjo
O Lelêu respondia com voz rouca a
Tremer de ódio e raiva e rancor
Pelo amor de Deus me xinga de filho
Da puta e me xinga de filho da égua
E me bates na cara e me cospes todo
Fazes o que quiseres comigo
Mas pelo amor de Deus
Não me chamas desse nome não
E Lelêu chorava a tremer de cólera
Ou de remorso talvez
E virava defunto
E ai passava um moleque
E gritava Papa Anjo
E Lelêu tremia a tentar agarrar o moleque
Mas tremia muito e tremia mais do que epilético
E berrava igual bezerro
E esperneava igual criança
E aí passava outro e gritava Papa Anjo.

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