Vende-se sala e três quartos
Na sala há dois sofás
Uma TV
Aparelho de som
Que toca músicas de Mozart
E um vídeo
Que passa lindas óperas de Verdi.
No primeiro quarto
Dorme (vive) o casal
(Que não quer vender)
Mas a tanto se vê obrigado
Pelo andar da carruagem.
No segundo
É a filha mais velha que esconde seus segredos
Na estante de livros desarrumados
Nas roupas já usadas
E jogadas pelo chão
Na cama que denuncia o constante uso.
No terceiro
A cena se repete
Estante de livros de auto-ajuda
Uns discos de Carlos Gardel
Um soutien jogado ao lado
Um cheiro de humano
E a sensação inarredável de privacidade
O corretor veio primeiro
Com olhos avaros rompeu a privacidade
Olhou com desdém
Matutou enigmaticamente
Diminuiu o preço por causa do soutien.
Depois veio o primeiro pretendente
Aliás, os primeiros
(Um casal)
Pareciam Mestre-sala e Porta-bandeira
Tal a desenvoltura que demonstravam
A casa como se deles fosse
Chegaram a olhar os donos com desprezo
E se deliciavam com a violação
De segredos nunca desvendados.
Mas tudo era como um jogo
Em que sempre há perdedor
E aquela altura
Os que vendiam
Já sabiam que tinham perdido.
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