sexta-feira, 29 de junho de 2012

Casimiro de Abreu, Borboleta; BH, 0290602012.

Borboleta dos amores,
Como a outra sobre as flores,
Por que és volúvel assim?
Por que deixas, caprichosa,
Por que deixas tu a rosa
E vais beijar o jasmim?

Pois essa alma é tão sedenta
Que um só amor não contenta
E louca quer variar?
Se já tens amores belos,
Pra que vais dar teus desvelos
Aos goivos da beira-mar?

Não sabes que a flor traída
Na débil haste pendida
Em breve murcha será?
Porque és volúvel assim?
Porque deixas caprichosa,
Porque deixas tu a rosa
E vais beijar o jasmim?!


Tu vês a flor da campina,
E bela e terna e divina,
Tu das-lhe o que essa alma tem;
Depois, passado o delírio,
Esqueces o pobre lírio
Em troca duma cecém!


Mas tu não sabes, louquinha,
Que a flor que pobre definha
Merece mais compaixão?
Que a desgraça precisa,
Como do sopro da brisa,
Dos ais do teu coração?


Borboleta dos amores,
Como a outra sobre a flores,
Por que és volúvel assim?
Porque deixas, caprichosa,
Porque deixas tu a rosa
E vais beijar o jasmim?


Se a borboleta dourada
Esquece a rosa encarnada
Em troca duma outra flor;
Ela - a triste, molemente
Pendida sobre a corrente
Falece á míngua d'mor.


Tu também,minha inconsciente,
Tens tido mais dum amante
E nunca amaste a um só!
Eles morrem de saudade,
Mas tu na variedade
Vais vivendo e não tens dó!


Ai! és muito caprichosa!
Sem pena deixas a rosa 
E vais beijar outras flores;
Esqueces os que te amam...
Por isso todos te chamam:
 - Borboleta dos amores!

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