Porque estás a chorar? perguntou-me alguém
Numa esquina da qual não me lembro porque
Gostaria de escrever uma obra-prima criar uma
Obra de arte literária a imortalizar-me através
Das letras palavras antes que fique cego
Meus olhos estão a arder avermelhados meu
Glaucoma está a acentuar-se já quase não
Enxergo do olho direito se ainda tivesse a
Genialidade de Homero ou de Jorge Luís Borges ou doutros cegos memoráveis valeria
A pena ficar cego mas sou o mais cego dos
Cegos não enxergo nem pelo tato não
Enxergo pelo olfato paladar audição não
Enxergo nem pelos poros tenho milhões
Deles espalhados pela pele todos
Abundantemente cegos é por isto que só sei
Chorar derramar lágrimas prantear implorar
Clemência nem Sêneca se vivesse nos dias de
Hoje seria capaz de me aturar só sei pedir
Perdão que o mundo seja generoso comigo o
Ser humano misericordioso não sei ser
Imperturbável no meu comportamento ninguém
Sabe como tanto me envergonho ter que pedir
Misericórdia falta-me severidade virtude
Sobra-me crueldade não tenho dimensão
Humana autoridade cidadania supremas
Nem vínculo com a liberdade meu erro é a
Escravidão majestosa a falta dum gesto
Histórico modelar que sirva para solidificar
Minha segurança pessoal com a máxima
Definição de que valem minhas leis minhas
Regras minhas normas meus estatutos?
Quebro-os todos não os respeito de que valem
Meus princípios? se não tenho equilíbrio
Moderação prudência de que valem minhas
Máximas se sou menos do que o mínimo?
Quem me dará crédito? gostaria de pelo
Menos parar de chorar dar um basta pois
Sei que obra-prima obra de arte não sou
Capaz de criar o que é isso? que escuridão
É essa? luz acendam a luz luz Sêneca luz
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