terça-feira, 6 de novembro de 2018

Quero beber se não tenho sede; NL, 01903002010; Publicado: BH, 0180502010.

Quero beber se não tenho sede
Quero comer se não tenho fome
Quero pensar se não tenho pensamento
Viver se não tenho vida passei do tempo
Da era passei da época do
Período agora sou passado muito
Mau passado o meu futuro é
Quase cru vegetal de vaso de
Quintal não passo do parapeito
Da janela a soleira da porta
De tão estreita não vejo a curva
Do caminho não vejo a volta do
Horizonte quero amar se não tenho
Amor quando grito paz todos 
Estão na guerra há muito
Piso na relva a relva seca
Encosto a boca na água do regato
A água fica logo turva olho o azul
Do céu enegrece a chuva
Que cai é ácida para matar as flores
Do jardim cansei de reclamar
Malgrado meu quem me dera
Recuperar a era de quando era
Alguém atual toco tosco pedaço de
Pau podre madeira que não serve
Para ser talhada em nada
Não tenho esperança de ver o
Encontro das paralelas o infinito
Terá fim para mim mendigo
Andrajoso cujas chagas os cachorros
Têm nojo de lamber mas as moscas
Varejeiras rondam-me a anunciarem o
Festim zunem aos meus ouvidos como
Se fosse um mórbido querubim
Vejo que meu obituário não será um jardim

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