Como é estranho o teu olhar
Que brilho morto dele emana
Que brilho fosco sai dele
Não parece o brilho
Dum verdadeiro olhar
Dum olhar feito
Pela profundeza do mar
Pelo infinito do céu
Infinito azul
Que não consigo roubar
Que estranha estás hoje
Tão estranha que
Custei a te reconhecer
Pois antes quando te olhava
Não conseguia te ver
Era ofuscado pelo brilho
Hoje não
Hoje consegui te ver
Por isso achei estranho
Tua chama se apagou
Teu fogo fugiu
Estavas gélida
Feito um toco de vela
Encostado a um canto
Um canto de parede
Sem reboco sem pintura
Duma casa velha
Numa rua sem saída
Em cima dum morro
Moravas nessa casa
Combinava contigo
Com o teu olhar
Com as tuas roupas
Feches os olhos agora
Procures dormir
Não farei amor contigo
Enquanto não raiar o dia
Nesse teu olhar
Deixa clarear mais
Deixa a luz brilhar mais
Deixa a luz nascer
Nada é melhor
Do que uns olhos abertos
Onde a vida entra
Onde o mundo aparece
Onde a gente se encara
Se enxerga um ao outro
Pois não podemos enxergar
A nós mesmos
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