Como se fosse o salmo 23
Quando jovem tive o Senhor
por pastor
e então nada me faltava
caminhava galhardamente pelas
ruas da acrópole
e meus pés eram ligeiros como
os de um antílope
e não havia malefício que me
inquietasse
primeiro alimentou-me o amor
materno
suas palavras sábias tornaram-me
nobre
e de elevados propósitos
havia então pureza de
espírito em mim
e generosidade em minhas
ações
depois tive braços carinhosos
e tenros
que me cingiram com enlevo
e mãos sábias e prenhes de
amor
que me fizeram descobrir os
encantos do universo
que habitava em mim
minha jovem alma era leve e
lampeira
podia seguir ligeira
pois a senda era ladeada por
campos de girassóis
e cantos de regozijo ecoavam à minha volta
como se fosse o melhor de Mahler
pois o Senhor estava comigo
alimentava-me de mel e leite com
fartura tal
que transbordava de meu
cálice
havia bondade misericórdia e
alegria de viver
no mundo de então
e amparo e aconchego para
minhas costas
e nem os inimigos me
invejavam
e cria que o mundo haveria de
ser lugar propício para habitar
pois o Senhor estava comigo
minha jornada continua ainda
os pés sangram-me da aspereza
do caminho
que já se anuncia apocalíptico
pois não sei para aonde me
levará ao fim
os inimigos babam
raivosamente em minha cerviz
sinto seu hálito pegajoso e
doentio
já não há esperança para meu
espírito cansado
braços e abraços esmaeceram
na lembrança
que também foge pelo orifício
da ampulheta
resta-me apenas a certeza do
fim
que acolherá o que sobejar de
mim
não sei se haverá sossego
para esses dias
nem por aonde andará o Senhor
que um dia foi o meu pastor
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