Lucas Ninguém não tem pai não tem mãe
Não tem vintém esse é Lucas Ninguém
Sou Lucas Ninguém não tem
Parentes nem irmãos de todos só o desdém
É um mendigo mas as lágrimas são tão
Clarinhas límpidas transparentes como as de quem
Chegou ao fundo do poço ao fundo do precipício ao
Mais denso colossal do abismo já chorou toda a dor já
Verteu todo o sangue que até purificou virou
Sangue arterial de lágrimas arteriais Lucas
Ninguém não tem olfato não pode respirar não
Tem nariz respira pela boca nunca pode
Mantê-la fechada não sabe falar nem tem
Paladar se sufoca quando dorme a saliva
Já evaporou ninguém quer ser amigo de Lucas
Ninguém não pode ser amigo de ninguém
Muito menos de alguém pois esse é o Lucas Ninguém
Sou Lucas Ninguém não
Tem amigas nem namorada nem pode assinar uma
Carta de amor ou cantar uma canção declamar uma
Poesia demonstrar inspiração chora vazio no
Canto oco do seu quarto vazio despido de toda
Qualquer condição humana Deus o estragou a mãe
O estragou o pai o estragou o deixarei
Imortal nesta elegia triunfal esse é Lucas Ninguém
Sou Lucas Ninguém
Agora imortalizado agora beatificado canonizado
Santificado não pelo papa mas por mim Lucas
Ninguém não tem sorte não é um vencedor
Não é lendário não é guru não é gênio não
É um self-made-man workaholic yuppie nem tem história
Esse é Lucas Ninguém ele é Lucas Ninguém
Sou Lucas Ninguém será que um dia ainda
Conhecerá a felicidade? será que um dia ainda
Terá sentimento ou será sentimento de alguém?
Ou acabará seus dias se tiver dias já que não tem
Nada igual ao Arthur Bispo do Rosário? Lucas Ninguém
Sociedade Anônima Firma Fantasma Lucas Ninguém
Alcoólatra Anônimo Lucas Ninguém Bêbado Desconhecido
Lucas Ninguém Lucas Ninguém Drogado Inveterado
Será que um dia terá nome? existirá? ou virará cinzas
Estátua de sal ou lápide ou um aqui jaz numa sepultura
Indigente de cemitério de carentes sem cruz na campa
Sem flores na tampa sem alma sem espírito sem paz
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