Sentado à sombra de espessa folhagem,
Quando ouvi golpes discretos,
Suavemente, como em compasso.
Aborrecido, fiz uma careta,
Até que em fim, eu também, como um poeta,
Comecei a falar em tic-tac.
Enquanto eu versificava, upa!
Sílaba por sílaba,
Subitamente desatei a rir, a rir,
Pelo menos durante um quarto de hora.
Tu poeta? Tu um poeta?
Estarás assim mal da cabeça?
- "Sim, senhor, você é poeta!"
Pic, o pássaro, dá de ombros.
Quem espero sob este arbusto?
Salteador, quem quero surpreender?
Uma sentença, uma imagem?
E logo faço a rima.
Tudo o que rasteja, o que saltita,
O poeta logo transforma em versos.
- "Sim, senhor, você é poeta!"
Pic, o pássaro dá de ombros.
As rimas para mim são como flechas.
Como o animal sobressalta, treme, pula,
Quando a flecha penetra
Nas partes nobres do seu corpo!
Vais morrer, pobre diabo!
Ai! se não for de embriaguez.
- "Sim, senhor, você é poeta!"
Pic, o pássaro, dá de ombros.
Versículos oblíquos, cheios de pressa,
Pequenas palavras loucas que se atropelam!
Até que, linha após linha,
Tudo esteja suspenso na corrente.
E há pessoas cruéis
Isso diverte? Poeta sem coração?
- "Sim, senhor, você é poeta!"
Pic, o pássaro dá de ombros.
Zombas, pássaro? Queres rir?
Já estou com a cabeça desvairada,
Meu coração estaria ainda mais?
Cuidado, cuidado com minha ira!
Mas o poeta tece rimas,
Mesmo irado, breves e verdadeiras.
- "Sim, senhor, você é poeta!"
Diz "pic", o pássaro, que dá de ombros.
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