Escravo da escravidão ainda trago no peito
A vergonha de escravo da escravidão
Trago nas costas no pescoço as marcas
Dos grilhões ainda tenho pesadelos
Com meus ancestrais antepassados
Acorrentados aos pelourinhos ainda
Ecoa nos meus ouvidos os gemidos
Reverberados nos porões dos navios
Negreiros o barulho dos corpos
Que eram atirados nas águas
Mesmo com o batuque dos atabaques a
Varar as madrugadas a ginga
O balanço das ancas das negras mulatas
A macumba a capoeira a feijoada
Em noites enluaradas não consigo
Alegrar-me vem-me a lembrança
Do choro das crianças esquecidas nas
Aldeias o choro das mães o lamento
Dos pais longe dos seus filhos me
Imagino um escravo também a sofrer
Na mesma prisão sem entender o
Porque de tamanha opressão liberdade
Bocejei no meu sonho liberdade livra-me
Deste pesadelo do passado não quero
Mais sofrer nem mais chorar nem
Mais lembrar liberdade não sejas
Tão medíocre assim comigo não sejas
Tão estúpida assim sejas para mim
Ampla geral irrestrita liberdade
Não quero ser mais escravo quero
Ser liberto autônomo cidadão
Soberano independente liberdade
Livra-me destas cicatrizes apagues estas
Tatuagens que afogam meu espírito
Perturbam minh'alma liberdade
Acabes com esta vergonha duma vez
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