Ai meu Deus perdi a encantação passou o encantamento
Sinto-me um velho desencantado um pedaço de tecido
Roto parecido ao duma canastra envelhecida a juventude
Fugiu a jovialidade não vem encanastrar o rejuvenescimento
Comigo não sei tecer com o entrançado ou entrançar estas
Coisas emocionais sentimentais que não abatem o semblante
O que me resta agora além da canseira do enfado é o
Encanceirar criar cancro no organismo ou gangrenar a perna
Cancerar um órgão interno ou cancerizar o corpo ao
Apodrecer um outro membro qualquer nesta altura da vida
Nada poderá encandear o ser sou um peixe que não se deixa
Atrair pelo candeio vivo estes restos de dias com o medo
Do ofuscar do espírito não aprendi como impedir a covardia de
Cegar-me tenho receio de chegar a hora do alucinar por
Causa da demência senil fico a pensar o que pode
Deslumbrar um velho alquebrado? fascinar um espírito
Que passa os últimos tempos a estontear pelos cantos
Das paredes? quando era tempo de cristalizar de tornar-me
Como o açúcar apurar-me com a virtude encandilar-me
Com a razão perdi-me pela vereda do sertão urbano passei
Grande parte a encangalhar pelo orbe urbe deixar o mundo por
Cangalha em mim tenho então culpa por este encanzinamento
Sou a causa o efeito por este encanzinar não posso encanzoar
Por isto os semelhantes durante todos os anos de vida soube
Fazer zangar a mim aos outros fiz empenar todas as
Oportunidades passei a obstinar o ódio na perseguição aos iguais
Sentia prazer em enfurecer alguém seja lá quem fosse o delírio
Era destilar fel o amargo da bílis a coleção do mau humor
Do ódio irracional azedume grande amargor quaisquer alegrias
Alheias eram motivos para que tais féis viessem à tona sinto
Que não consegui controlar os feles que me dominam ai meu
Deus não irei encanelar dobar em canelas novelos ou fazer
Acanelar lã que não serve para encaniçar se cercar com caniçado
Ou canas serve para encanteirar uma sepultura pôr uma cova
Num canteiro dividir plantar restos de mim pelos canteiros dos
Cemitérios pois passei os dias da minha vida para esperar que as
Coisas caíssem do céu como bençãos graças outras venturas
Como nunca fui incluído numa lista de abençoados ou
Privilegiados ou de iluminados a espera redundou nesses
Caniteiros encanudado num caixão ou sarcófago que tem forma
De canudo a formar caneluras nas quais passarei a eternidade
Agora a encanudar o infinito sem saber até onde irá tal encoivação
Se não prestei para encoifar a fumaça do simulacro que foi a minha
Realidade fui para encofrar a atualidade comigo para guardar em
Cofre o esqueleto de marfim assim encofar a alma meter num jarro
O espírito introduzir num raio de luz o ente guardar no cofo o ser para
Não encodear ou criar crosta transformar-se em côdea em
Encodeamento ficar no alto encarapitar na lembrança
Encocurutar na memória depósito provisório de peixes ainda vivos
Dentro d'água numa encoadura celestial não sei se mereço esse
Enclítico igual ao vocábulo que está em ênclise fenômeno fonético
Que consiste em incorporar-se na pronúncia ou vocábulo átono ao
Que vem antes dele ao subordinar-me o átono ai acento tônico do
Outro pronominal colocação do pronome pessoal átono
Depois do verbo mandou-lhe todos as flores ao sepulcro
Vive-se bem depois de morto sim amo-a ainda em cinzas
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