Agora é hora de escrever meus poemas
Minhas cartas póstumas meus epitáfios
Não sei quantas sepulturas terei em
Quantos lugares serei enterrado se
Forem fazer campas lápides para o
Meu corpo todos os cadáveres que
Carrego dentro de mim féretro para
Todos os mortos todas as mortes que
Sustento nas costas haja caixões haja
Mortalhas sou números são inúmeros
Dentro de mim chego a sentir-me pesado
Presumo que serão necessários homens
Fortes robustos para me carregarem até
Ao buraco ou ao forno de cremação muitas
Alças para as mãos não quero choro não
Quero velas nem ladainha nem oração não
Quero canto nem reza velório é pura
Diversão contem piadas riem falem de
Mim mas mal muito mal nunca tive
Motivos para falarem bem só não quero
Hipocrisia falsidade desdém o resto tudo
Pode à minha gente pobre desamparada
Infeliz não quero político luxo sobrepeliz
Quero o lixo o caos o submundo ir do
Zênite ao fundo num piscar de olhos na
Abertura dum segundo ruir por implosão
Roer a corda que sustenta o coração
Parar beber o sangue matar a sede não
Explicar nem dar satisfação o mundo não
É diferente o mundo é indiferente inerente
A cor à falta de amor aos falsos sentimentos
Indecente sem decoro é um desaforo para
A lua para o sol é um rol de impropriedades
Uma abstração para a chuva uma violência
Para a natureza inversão de costumes
Descompostura de comportamento
Seguimento da genealogia da perda de
Valores descumprimento dos deveres
Morte da filosofia velório da poesia edema
Do poema glaucoma amputação de órgãos
Com os seres ainda vivos cobaias da loucura
Onde está o homem? procuram em mim não
Encontram um espectro no espelho um anjo
Inviável cuspido do céu expulso do
Olimpo afogado no rio de Caronte
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