Não tenho ideias
Nasci com arreios mentais
Senti desde cedo o arrear do meu pensamento
A mentalidade presa por arreata
A mesma corda ou correia
Com que se prende cavalos
Burros para conduzi-los
Nasci uma alpercata presa
Em pés calejados de sertanejos
Pés duros maltratados
Dos nossos mais simples representantes
Os retirantes caminhantes
Que fogem da seca do sol escaldante
Vivo sem nada do que adornar-me
Não vejo como mobiliar
Nem a minha casa
Imagina a minha cabeça
Nada tenho com que me ufanar
Ovelha só sozinha solitária
Não tenho como me arrebanhar
Juntar-me em rebanho
Reunir-me com outros
Fui arrebatado de mim mesmo
Sou o meu arrebatador
Não tenho exaltação
Não vivo com êxtase
Só sinto tirar de mim a vida
Tomar meu tempo com violência
Levar à força minh'alma
Só sinto arrancar de mim o amor
Privar a mim o usufruto da paz
É arrebatar-me da sociedade
A minha presença incomoda
Podeis roubar a minha felicidade
Nada mais pode me enlevar
Inflamar meu peito
Com o que vou regozijar-me hoje?
De que que tenho que orgulhar-me?
O arrebatamento que conheço
É o terror que se apodera do meu coração
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