Vi a minha bisavó Conceição morta
Alguém chorava na janela
Não lembro-me quem era
Vi a minha avó Maria a Madinha
Mãe do meu pai morta
Meu pai chorava comigo no colo
Era menino
Não entendia nada
Como não entendo até hoje
Vi sargento Armindo a morrer
A sair pela porta da frente
Carregado de braço em braço
A uivar penso que de dor
Uma espuma branca pastosa
Escorria-lhe da boca;
Vi sargento Armindo morto
Velado na sala de visitas da casa
Minha mãe chorava num canto
Vi meu avô Cesar morto
Era pai de minha mãe
Na Santa Casa de Misericórdia
Do Rio de Janeiro
O cadáver estava nu numa maca
Um líquido qualquer expelia-se do pênis
Penso que morreu por descaso
Vi minha tia Lourdes
Irmã de minha mãe a agonizar
Pressenti que ia morrer
Tentei evitar-lhe a morte
Era inútil;
Vi minha avó Naninha a morrer
O câncer a consumir em pouco tempo
Não cheguei vê-la morta
Não fui ao enterro penso
Que a minha mãe
Nunca perdoou-me por isso
Vi de perto o sofrimento a morte
Do meu avô Donato
Pai do meu pai morto
Como doeu
Fui um menino de muitas mortes
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