Se fosse Deus
Santificaria todas as mulheres negras africanas
Beatificaria canonizaria todas a mães
Africanas desde as que geraram seus
Filhos para os tempos da escravidão
Às que os gestaram para a luta contra o
Aparthaid até às mães que originaram seus
Filhos para a fome às que os perderam nos
Genocídios nas guerras tribais campos de refugiados
Às que de peitos murchos secos sem saber que
Alimentam cadáveres em seus esqueléticos braços
Quando vejo-me nos olhos dos meus olhos
Vejo-me nas trevas dentro de mim só reconheço-me
Nas mães nas mulheres nas meninas
Africanas tanto nas estupradas na mais tenra
Idade quanto nas que tiveram seus clítoris
Arrancados em todas que padeceram sem
Conhecerem o prazer a felicidade
Se fosse Deus
Faria com que todos os países que
Exploraram que exploram a África devolvessem
Todas as riquezas todos os diamantes todas as
Vergonhas com que já mancharam a história
O passado o presente o futuro do povo africano
Se fosse Deus
A África não seria a mesma
A partir dum momento de minha vontade
Afastaria de lá o vale da sombra da morte
A lembrança da “Porta da Viagem sem Volta”
Também o vale da indecisão só ampliaria
O vale da fecundação da ciência da justiça
Mas não sou Deus choro derramo minhas
Lágrimas demonstro meu pranto grosso sujo
Minha falsidade hipocrisia minhas lamúrias
Lamentações desculpas arranjos para não ter
Que fazer nada nada tenho feito
Nada posso fazer a África continuará a
Sangrar seu sangue negro a jorrar o sol
A calcificar a pele a terra a natureza
O deserto a aumentar a fome a reinar
Se fosse Deus
Não quereria nem louvores
Nem orações nem cânticos enquanto
Não devolvesse em todos os cantos da África
O que é de minha obrigação a fecundidade
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